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terça-feira, 6 de janeiro de 2015

PORNOFONIA INVADE A INFÂNCIA - Funk Proibidão é ferramenta sutil para exploração sexual de crianças e adolescentes

O que acontece em Marabá, cidade polo da região sudeste do Pará, não está distante das grandes cidades e capitais do Brasil. A moda do Funk Proibidão está fazendo vítimas desde a infância. As letras e danças - o conteúdo dessa linha do funk - têm funcionado como estratégia de ataque às mentes e aos corpos dos menores. Tem servido como ferramenta sutil, que favorece a exploração sexual de crianças e adolescentes.
Isso ocorre porque surgem, em escala industrial, músicas que destacam a sexualidade exagerada e a covardia, de forma agressiva, que se vale do apelo à libido humana. E isso tem passado - aparentemente - sem nenhuma ou pouca preocupação ou regulação dos impactos que podem causar na mentalidade juvenil.  
O funk é um estilo musical oriundo das favelas do Rio de Janeiro, e se popularizou a partir dos anos 70, quando começaram a ser realizados bailes black, soul e funk. Pela notoriedade foi derrubando muitos preconceitos. Mas, com a fama, vieram também em peso as críticas. Especialmente à corrente do “Proibidão”, que ganhou repercussão no Brasil em meados dos anos 90 - década em que vivi boa parte da minha adolescência.  
Já é bastante conhecida a polêmica que o conteúdo desse tipo de música provoca, seja por fazer apologia ao crime organizado, seja por criar a utopia da ostentação. E mais. Era de se esperar que o tratamento de ridicularização da mulher, do corpo e valores femininos – por exemplo, vendida que nem objeto sexual –, fosse o ponto mais alto da polêmica, causada pelas letras do funk erotizador. 
No entanto, existe outro maior. A pornofonia, um termo simples encontrado no livro “O criminalista”, escrito por Vinicius Bitencourt, um advogado capixaba, que diferencia os palavrões proferidos em oposição à pornografia, que seriam palavrões escritos. Somadas aos palavrões, as músicas passaram a ser verdadeiros retratos de cenas de sexo explícito. Por consequência, o que era apelo à libido, agora se tornou uma cruel propaganda em favor da promiscuidade e da imoralidade, invadindo a menoridade.
Vale ressaltar que nem todos os músicos viram a linha do Funk Proibidão como “evolução técnica”. O próprio Dj Malboro, personalidade ilustre que contribuiu na divulgação funk por todo o país, considerou essa corrente distante do que ele faz enquanto artista.
As facilidades do mundo tecnológico como a internet (cujo contexto hoje é bem diferente do vivido pelas classes mais populares na década de 90), celulares e som automotivo potencializaram a divulgação da pornofonia numa escala ameaçadora. Qualquer pessoa passa a ter o contato ou possui o conteúdo musical do proibidão, a qualquer hora e em qualquer lugar. De fato, até as pessoas que não gostam ou sequer aprovam a força pornofônica acabam tendo que conviver com ela.
Na prática, esse contexto tem também todas as facilidades para que as crianças e adolescentes ouçam, cantem, até descobrir o sentido das músicas do Funk Proibidão. Nas ruas, nas escolas, nos lares, principalmente na solidão dos quartos, o material está sendo consumido.
Agora, a grande preocupação reside no que elas vão fazer conscientes do significado. Aliás, o problema maior é medir se elas terem conhecimento disso na menoridade, é saudável ou não, ou se coloca a meninada em condições de vulnerabilidade.
Deveria ser facílimo responder. Porque, juridicamente, conteúdo pornográfico é proibido para menores de 18 anos. Então, é consenso legal que a sociedade não quer os juvenis expostos antes de terem maturidade, antes de estarem minimamente preparados para tomar decisões referentes à própria sexualidade.    
O problema é que ninguém quer ser taxado de careta ou preconceituoso ao dizer não. Muito menos querem ser vistos como aqueles que estão censurando e roubando a liberdade dos juvenis. No entanto, todos tem o direito de dizer não. E direito, por exemplo, até de ser contra a indústria do sexo. Muito mais o direito de lutar contra as formas ilegais de sexualizar os juvenis.
É bem verdade que a culpa ou receio em relação a opinião alheia é uma das amarras da atualidade. As pessoas pouco percebem que estão sendo obrigadas a parar de pensar por si só. E são ensinadas ou acomodadas a acatar tudo que aparece na modernidade como sendo bom para o futuro. Não são poucos os pensadores, políticos e a imprensa que usam a bandeira da revolução cultural, para violar a mentalidade dos outros e transformar a democracia em alienação.  
A erotização das crianças no Brasil está ocorrendo em “nível nacional”. Parece até redundante a sentença anterior, só que, na verdade, ela só precisa ser esclarecida.
Fala-se em escala nacional não apenas no sentido de que os menores estão sendo alvo de sexualização precoce, em todos os estados brasileiros, porque os pais, a escola e sociedade ao invés de unirem forças para educá-los, pouco fazem contra aqueles que os tentam prostituir. Existe algo mais preocupante ainda.
A escala nacional tem a ver com a questão da legitimação, da legalidade. Isto é, os órgãos competentes, que deveriam proteger e garantir a qualidade na formação até os 12 anos, estão assistindo tudo com naturalidade. Em todo o Brasil, a sociedade presencia celebridades batendo palmas para a pornofonia. O pior é que muitas vezes exaltam aquilo que atropela a lei brasileira.
Um dos casos mais recentes é do MC Pedrinho, que para publicar o hit “Dom Dom Dom”, teve que criar uma “versão light”. Como se vê no trecho abaixo que é o começo da música:

“Dom, dom, dom, dom, dom, dom
Eu tava aqui no baile, escutando aquele som
Dom dom dom, dom dom dom
Vi logo uma novinha descendo até o chão”.

O que na verdade é uma adaptação feita para burlar as regras do YouTube e do Código Penal Brasileiro. A letra desse mesmo hit, que se espalhou pelo país, tem notadamente um conteúdo pornofônico, como se vê abaixo na parte que começa a música "heavy":

“Dom, dom, dom, dom, dom, dom, dom
Tava aqui no baile, escutando aquele som
Dom, dom dom, dom dom dom, dom
Ajoelha, se prepara e faz um boquete bom".

Enfim, já estão aceitando com naturalidade a ponto de se perder qualquer impacto ou perplexidade perante os vídeos de crianças dançando seminuas. As pessoas compartilham nas redes sociais sem criticar muitas vezes como se fosse tudo normal.
Se aos 12 anos, MC Pedrinho começou cantando a versão mais pesada do funk, imagine o que virá nesse ritmo de sociedade.
Vale lembrar que, recentemente, ele resolveu mudar o estilo para conseguir ser melhor aceito em todas as idades. Em entrevista ao R7, o garoto diz que preferiu mudar por conta de sua pouca idade. Na versão proibida de “Dom Dom Dom”, que acabamos de ver, ele fala de sexo oral. Já na permitida para menores, ele elogia o rebolado da novinha no baile. E assim ele pretende fazer com seu repertório.
Agora, tendo uma média de 30 shows por mês e faturando cerca de R$ 150 mil, será que MC Pedrinho vai parar? Na verdade, esta questão é a que menos importa aqui. Sabe por quê? A questão mais inacreditável e importante do momento é outra. Como pode um país ser tão hipócrita assim, a ponto de termos uma lei de proteção à crianças e adolescentes que firma algo, e na vida real, ninguém vê as autoridades fazendo nada contra?

Só pode haver uma resposta para tamanha hipocrisia. A indústria do sexo, seja a legal ou a criminosa, está bancando muita gente para que esqueçam o tamanho da responsabilidade que é ter olhos, quando os outros os perderam. 

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