Seco* (Anderson Damasceno)
Eu sepultei as chuvas dentro de
mim,
Não mais queria esse mor chão molhado,
Com teu falciforme calor dobrado,
Queria o agora quente de querubim.
Era adorado o ser que caiu do céu,
E sendo o que era, podia ser cruel,
Como rasgam gotas em um papel,
Torna-se cova, o chão de quem te deu.
Mas eram qual chuva as águas que eu
via,
Pedindo banho, amo feito menino,
Adora a pele os pingos como hino.
Lembro calado, ácido o que sentia.
Foi quando eu mais precisava chorar,
Que sepultei as chuvas dentro de mim.
Houve tempo que tuas águas vinham de
manhã,
Quando tudo é novo, fértil e não se
quer partir.
Chuviscando o dia, com cheio sorriso,
podia sair,
Cada minuto, e gotícula, curtia ser
fã.
Houve tempo que tuas águas banhavam a tarde,
Hora da vida adulta, faz-se dura,
trabalho e morte.
Caía competindo o céu com o sol a
chuva quente,
Amando mesmo doente, amor da mesma
idade.
E tempo houve, as torrentes fecharam a
noite,
Com trovões, rígido os céus, a tudo
afogavam,
E os corpos gélidos não mais se
encontravam.
Amores não crescem como as chuvas, é a
sorte.
* Texto premiado na categoria Poesia no 3º Prêmio Inglês de Sousa, realizado pela Academia de Letras do Sul e Sudeste do Pará (ALSSP), no ano de 2014 em Marabá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário