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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

POEMA - Seco (Anderson Damasceno)

Seco* (Anderson Damasceno)

Eu sepultei as chuvas dentro de mim,  
Não mais queria esse mor chão molhado,
Com teu falciforme calor dobrado,
Queria o agora quente de querubim.

Era adorado o ser que caiu do céu,
E sendo o que era, podia ser cruel,
Como rasgam gotas em um papel,
Torna-se cova, o chão de quem te deu.

Mas eram qual chuva as águas que eu via,
Pedindo banho, amo feito menino,
Adora a pele os pingos como hino.
Lembro calado, ácido o que sentia.

Foi quando eu mais precisava chorar,
Que sepultei as chuvas dentro de mim.

Houve tempo que tuas águas vinham de manhã,
Quando tudo é novo, fértil e não se quer partir.
Chuviscando o dia, com cheio sorriso, podia sair,
Cada minuto, e gotícula, curtia ser fã.

Houve tempo que tuas águas banhavam a tarde,
Hora da vida adulta, faz-se dura, trabalho e morte.
Caía competindo o céu com o sol a chuva quente,
Amando mesmo doente, amor da mesma idade.

E tempo houve, as torrentes fecharam a noite,
Com trovões, rígido os céus, a tudo afogavam,
E os corpos gélidos não mais se encontravam.

Amores não crescem como as chuvas, é a sorte. 

* Texto premiado na categoria Poesia no 3º Prêmio Inglês de Sousa, realizado pela Academia de Letras do Sul e Sudeste do Pará (ALSSP), no ano de 2014 em Marabá. 

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